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Editorial: Francisco ou João XXIV na JMJ 2023

Na semana passada, o Papa Francisco concedeu uma entrevista à TVI/CNN, acompanhada por muitos portugueses. Num estilo simples, direto, afável, o Papa respondeu a cada questão colocada, sem rodeios, como é sua característica. Uma das perguntas de Maria João Avilez fixou-se na expectativa da vinda do santo Padre à Jornada Mundial da Juventude, em 2023. A jornalista vincou que os portugueses esperam, em concreto, pela vinda do Papa Francisco.

Como muitos vezes repetimos, o futuro só a Deus pertence. Só Ele o conhece em absoluto, mesmo que os místicos tenham vislumbres dos dias vindouros. A resposta do santo Padre é decidida: o Papa vem à JMJ 2023, o Francisco ou o João XXIV!

As reações foram quase imediatas, com algumas pessoas a afirmarem o que o Papa não disse, parecendo-lhes que Francisco não virá em 2023! Ou por motivos de doença e resignação ou, hipoteticamente, que vislumbre um futuro próximo que não contará já com a sua presença e/ou magistério! O que só se saberá à posteriori! Tem vindo a acentuar-se a opinião da sua resignação. A doença que o tem debilitado, nomeadamente nos joelhos, denotando uma enorme dificuldade em andar, em sentar-se, em levantar-se, tendo recorrido à cadeira de rodas ou a uma bengala, faz supor que a resignação estará para breve, seguindo o exemplo do seu Predecessor, Bento XVI. O próprio, elogiando o gesto de Bento XVI, colocou essa possibilidade, já não como um tabu, mas como uma possibilidade mais frequente no futuro. Bento XVI, quatro anos antes de resignar colocou o pálio no túmulo de São Celestino V, o Papa que séculos antes tinha resignado. Gesto lido a posteriori como um sinal inequívoco que apontava para a sua resignação. Afinal, quando aconteceu, apanhou todos de surpresa e, nessa altura, fizeram-se então as leituras dos sinais que tinha deixado antes. Em relação ao Papa Francisco, alguns procura ver esses sinais antes de acontecer a resignação, o que o levou já a afirmar perentoriamente que não estava nos seus horizontes resignar, pois a doença não era impeditiva do seu magistério papal!

Esta resposta, dada à jornalista portuguesa, suscitou novamente a possibilidade de em breve prazo o Papa Francisco resignar. Vemos a alguns sinais anteriores! O facto de ter dito que a opção de Bento XVI foi uma verdadeira revolução dentro da Igreja, a visita a Aquila, no final de agosto, precisamente onde está sepultado o Papa Celestino V; a criação de novos cardeais! Quando falou, de João XXIV, alguns inferiram a ligação a João XXIII, que convocou o Concílio Vaticano II, mas que Paulo VI prosseguiu e encerrou. Assim também o Sínodo, sobre a sinodalidade da Igreja, foi começado por Francisco e poderia vir a ser concluído pelo Papa sucessor! Ou como o Ano da Fé, iniciado por Bento XVI e concluído por Francisco. Mas não passam de conjeturas, mesmo que se viessem a verificar!

Bento XVI, em 2010, peregrino em Portugal, deixou a garantia que o Papa estaria presente no Centenário das Aparições, em 2017. Porém, foi o Papa Francisco que veio! A Jornada Mundial do Brasil, marcada por Bento XVI, viria a ser presidida pelo Papa Francisco! Recuando, no que às jornadas mundiais diz respeito, João Paulo II convocou a de Colónia, na Alemanha, para o ano de 2005, mas seria o Papa alemão, Bento XVI, a encontrar-se com os jovens idos de todo o mundo! Desta forma, não seria uma novidade! O papa estará! Há, naturalmente, uma grande expectativa para nos encontrarmos com o Papa Francisco em Lisboa, no próximo ano, mas também a certeza que só Deus sabe o dia de amanhã. Esta espera expectante diz bem do carinho que os jovens e, no geral, a maioria das pessoas, têm pelo Papa latino, quente, próximo, simples, decidido, profeta! Deus também Se faz ver por pessoas concretas. Por outro lado, a resposta de Francisco corporiza o que Bento XVI disse no final do seu pontificado: “Sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas do Senhor. E o Senhor não a deixa afundar; é Ele que a conduz, certamente também por meio dos homens que escolheu, porque assim quis…”


Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 92/42, n.º 4673, 14 de setembro de 2022

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