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Editorial: Dos ladrilhos da fé à fraternidade

“Todos, todos, todos”. Uma das expressões do santo Padre na JMJ 2023! Como nos tem habituado, o Papa Francisco lança mão de um refrão, uma palavra, uma imagem que colhe bem nos seus ouvintes, crentes ou em procura.

No Mosteiros dos Jerónimos, durante as Vésperas, na sua breve intervenção, ressoaram estas palavras, depois de sublinhar a alegria de estar neste belo país, “terra de passagem entre o passado e o futuro, embelezado por vales viçosos, praias douradas debruçadas sobre o imenso e fascinante oceano”, que o fez recordar a cena em que Jesus encontra os pescadores a arrumar os barcos e a lavar as redes…

Jesus convida os futuros apóstolos a lançar novamente as redes para a pesca, a deixarem de lado o cansaço. “Ele vem procurar-nos nas nossas solidões, nas nossas crises, para nos ajudar a recomeçar”. Cabe-nos aceitar a mão que Jesus nos estende. “Este é o tempo da graça que o Senhor nos concede para nos aventurarmos no mar da evangelização e da missão”.

Três opções neste caminho. Primeira: fazer-se ao largo… é preciso sair da margem das desilusões e do imobilismo; a segunda opção, levar juntos por diante a pastoral, todos juntos. São dois barcos. Eis a primeira incisão: “na Barca da Igreja, deve haver lugar para todos: todos os batizados são chamados a subir para ela e lançar as redes, empenhando-se pessoalmente no anúncio do Evangelho. E não voz esqueçais desta palavra: todos, todos, todos”. O senhor da parábola que prepara as núpcias do filho, diz aos serventes: “trazei todos, todos, todos, todos: sãos, doentes, crianças e adultos, bons e pecadores. Todos. Que a Igreja não seja uma alfândega para selecionar quem entra e quem não entra. Todos, cada um com a sua vida às costas, com os seus pecados… Todos. Todos. Não levantemos alfândegas na Igreja. Todos”.

Na reflexão, o santo Padre fixa-nos: “Vós, fiéis portugueses, formais uma ‘calçada’, sois os ladrilhos preciosos que compõem um tal pavimento acolhedor e brilhante que o Evangelho há de pisar; e não pode falar uma pedrinha sequer, senão imediatamente se dá conta”. Na criação dos novos cardeais, o Papa utiliza uma outra bela imagem: o “Colégio Cardinalício é chamado a assemelhar-se a uma orquestra sinfónica, que representa a dimensão sinfónica e a sinodalidade da Igreja… Uma sinfonia vive da sábia composição dos timbres dos diversos instrumentos: cada um dá o seu contributo, ora sozinho, ora combinado com outro, ora com todo o conjunto”. A beleza da calçada está na diversidade dos ladrilhos que a compõem, assim a Igreja que queremos construir.

A terceira opção: tornar-se pescadores de homens. “Vinde todos… depois falamos. Mas, mas primeiro, sintam o convite de Jesus, depois virá o arrependimento e enfim a proximidade de Jesus”. Todos. “Justos e pecadores, bons e maus, todos, todos, todos”.

Na cerimónia de acolhimento, na Colina do Encontro, o Papa volta a insistir: “Na Igreja há espaço para todos. Para todos. Assim como somos. Todos… jovens e idosos, sãos, doentes, justos e pecadores. Todos, todos, todos. Na Igreja há lugar para todos… Todos juntos. Todos, todos, todos”.

E logo na Capelinha das Aparições: “A Igreja não tem portas, para que todos possam entrar… esta é a casa da Mãe, e uma mãe tem sempre o coração aberto para todos os seus filhos, todos, todos, todos, sem excluir ninguém… Maria acolhe-nos a todos e indica Jesus”.

Já no avião, no regresso ao Vaticano, o Papa reafirmará: “A Igreja está aberta a todos e, depois, há legislações que regulam a vida da Igreja… Venham todos… O Senhor é claro: doentes e sãos, bons e maus… A Igreja é mãe, acolhe todos, e cada um percorre a sua estrada dentro da Igreja”.


Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 93/48, n.º 4728, de 2 de novembro de 2023.

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