A doçura de Deus manifesta-Se em plenitude em Jesus Cristo, na Sua vida por inteiro, nas palavras e nos gestos, na delicadeza com que se aproxima de todos, preferencialmente dos mais desfavorecidos, pobres e doentes, mulheres e crianças, publicanos e pecadores, estrangeiros. A opção preferencial não é excludente, pelo contrário, é inclusiva.
Jesus di-lo claramente: «Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores», pois «não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes». Na luta de classes, proposta celebrizada por Karl Marx, estava a raiz, o combustível, a força motriz da história humana, para a mudança no mundo social, feita progressivamente ou através de revoluções. Na prática, a história mostraria que esta luta e esta revolução consistiria em trocar umas classes por outras, mantendo uma elite no comando, com poder e riqueza, impondo-se ditatorialmente, gerando um novo mundo de pobres e excluídos, uma multidão de súbditos e de novos escravos, sob a bandeira de um hipotético bem comum, excluindo a propriedade privada, para que tudo fosse gerido pelo Estado, e distribuído, não tanto pelas necessidades de cada um, de cada família, mas em conformidade com a proximidade política e o círculo de amigos. Saliente-se que os ideais de Marx têm muito de justo e defensável, mas os seguidores e os concretizadores de tais ideais submeteram tudo a interesses político-partidários, pessoais e familiares. O capitalismo, embora promovendo a propriedade privada, o mérito, o esforço, tem manifestado um rosto selvagem, produzindo outra multidão de excluídos. Em Jesus, a opção preferencial há de levar a uma verdadeira partilha solidária, à comunidade, à construção de uma fraternidade, pois não se trata de incluir a uns para excluir outros, não se trata de elevar uns para rebaixar os outros, trata-se de viver numa perspetiva de igual dignidade, de entreajuda, de dádiva, para que todos tenham direitos de cidadania. A opção preferencial implica reabilitar, recuperar, devolver a dignidade, reconhecer a pessoa, além e apesar das suas fragilidades, faltas, dificuldades e insuficiências. Os pais dão mais atenção, em alguns momentos, a um dos filhos, o que está doente, ou está longe, ou passa por uma dificuldade maior, não para beneficiar um em relação aos outros, mas, precisamente, para que este se sinta cuidado e possa usufruir da presença dos pais.
Nesta sexta-feira, semana seguinte à solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, celebramos a solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Com efeito, o mistério é o mesmo, “visto que a Eucaristia/Corpus Christi nada mais é que o próprio Coração Jesus, um ‘Coração’ que ‘cuida’ de nós”. Assim podemos ler na página de notícias do Vaticano. No seguimento, faz-se uma breve história da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, relembrando que foi são João Eudes, sacerdote francês, a celebrar pela primeira vez esta festa, a 20 de outubro de 1672. Ligados à devoção os místicos alemães, Matilde de Magdeburg (1212-1283), Matilde de Hackeborn (1241-1298) e Gertrudes de Helfta (1256-1302) e Beato dominicano Enrico Suso (1295 – 1366). Contudo, foi com santa Margarida Maria Alacoque (1647-1690), com as revelações que recebeu, que se deu a difusão do seu culto. «…Conversando com ela, Jesus pediu-lhe para ‘comungar, todas as primeiras sextas-feiras do mês’, durante nove meses consecutivos e ‘se prostrar no chão por uma hora’, na noite entre quinta e sexta-feira. Deste modo, nasceram as práticas das nove sextas-feiras e da hora Santa de Adoração».
Em 1856, o Papa Pio IX ordenou que se celebrasse em toda a Igreja. Em 1995, São João Paulo II instituiu o “Dia Mundial de Oração pela Santificação do Clero”, para que o sacerdócio fosse protegido pelo Coração de Jesus, para ser aberto a todos.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 93/30, n.º 4710, 14 de junho 2023