De entre as várias personalidades que se evidenciaram na história e desenvolvimento da cidade de Lamego, importa destacar D. Manuel de Noronha.
O Bispo, Benfeitor e o homem bom que se encontra sepultado na Capela de S. Nicolau, no claustro da Catedral de Lamego.
Filho de Simão Gonçalves da Câmara e de D. Joana de Castelo Branco, D. Manuel de Noronha viaja para Roma, por encomenda do monarca, onde foi elevado a exercer um cargo importante no Vaticano tendo sido agraciado pelo papa Leão X, do qual foi camareiro.
Em Portugal, foi arcediago da Guarda, Oliveira do Douro e de Lamego.
Em 1551 foi ordenado Bispo de Lamego onde possuía rendas de várias Igrejas.
No papel de Benfeitor, legou parte dos seus honorários para diversas obras arquitetónicas que mandou edificar mas destaca-se sobretudo enquanto cumpridor de obras de misericórdia, como o apoio aos desamparados, sobretudo a assistência e dotação de órfãs às Misericórdias de Lamego e do Porto.
Atento às necessidades socias da época, onde predominava a preocupação pela pobreza feminina, D. Manuel defendia que nenhuma menina poderia ficar desamparada, garantindo que todas casavam com homens bons e abastados, independentemente do seu estatuto social, fosse de boa casta ou casta mais baixa, filhas de artesãos, fidalgos ou filhas de pais cristãos velhos.
No entanto, os dotes variavam mediante os estatuto social de cada menina.
Importa ainda destacar o papel de D. Manuel no apoio às meninas órfãs de Lamego, pois em 1551 ordenou que os 10 000 réis inicialmente destinados às meninas órfãs das suas Igrejas se destinassem apenas à dotação de jovens de Lamego, promovendo a sua integração social e salvaguardando a sua honra.
Também em Lamego se evidenciou pela construção da Capela de S. Nicolau, situada nos claustros da Sé.
No Museu de Lamego, há ainda um testemunho notável deste benfeitor, através da sua Pedra de Armas.
Homem altruísta e de causas, D. Manuel serviu de exemplo e inspiração para outros benfeitores da cidade que continuaram a cumprir o seu legado e do qual Lamego foi palco ao longo dos seus vinte e três anos de vigência.
Ana Catarina Lobão, in Voz de Lamego, ano 93/32, n.º 4712, 28 de junho 2023