13 anos após o início da guerra na Síria, a Irmã Samia não tem descanso
A guerra na Síria começou em Homs. No dia 15 de março assinalou-se essa data. Foi há 13 anos. Desde então, já morreram mais de 400 mil pessoas e mais de 13 milhões foram forçados a abandonar as suas casas. Mas esta guerra que quase caiu no esquecimento continua ativa em algumas regiões, continua a matar, a causar sofrimento. Para a Igreja, porém, mesmo que mais ninguém fale da Síria, todos os dias há uma batalha a travar: a da ajuda aos mais necessitados, aos que estão em lágrimas. Esta é a batalha da vida da Irmã Samia Jerij.
A guerra foi de tal forma violenta nesta cidade que ainda hoje, 13 anos depois de tudo ter começado, há vestígios dos combates como se fossem despojos do campo de batalha que ficaram por retirar. O entulho dos prédios que ruíram é a metáfora perfeita para uma guerra que ainda não acabou. Para a Irmã Samia Jerij, a guerra só terminará quando conseguir secar todas as lágrimas de todas as pessoas que lhe batem à porta. Muitas vezes, essas pessoas precisam apenas de dois dedos de conversa, de um abraço amigo, de um sorriso contagioso. A Irmã Samia não é enfermeira, mas passa os dias a curar feridas. A curar as feridas mais difíceis, as que se escondem no fundo da alma. A Irmã Samia parece ter uma energia inesgotável. Quando ela sai de casa e atravessa a rua, parece que a guerra está prestes a explodir de novo. Por todo o lado, há cicatrizes dos tempos em que o céu se escurecia com o rebentar das bombas e as pessoas, em fuga, tentavam salvar a própria vida. Perto do centro da cidade de Homs, no chamado Bairro Velho, fica a Igreja de Altip. É aí, ao lado da igreja, que funciona uma escola dirigida a crianças com deficiência mental. A Irmã Samia é a diretora da escola. Aquelas crianças e jovens não têm praticamente mais ninguém. As irmãs, que os acolheram, são agora a sua família. A guerra, todas as guerras, revelam o pior e o melhor das pessoas. Ao mesmo tempo que soldados varriam os céus despejando bombas sobre Homs, outras pessoas afadigavam-se a socorrer feridos, a resgatar vizinhos encurralados nos escombros dos prédios, a acolher os que ficaram sem casa, sem família, sem nada.
Secar lágrimas, socorrer pessoas
“Nós temos de ajudar a curar as feridas nos corações das pessoas. O mais importante de tudo é a oração.” Para Samia Jerij, que pertence à congregação das Irmãs do Sagrado Coração, não há novos nem velhos, nem homens ou mulheres, nem amigos ou inimigos. Há pessoas e feridas para curar. Foi assim nos dias mais tumultuosos da guerra e continua a ser assim no dia-a-dia. Para a Irmã Samia, tudo se resume quase a uma palavra: cuidar. “Sou religiosa e a nossa missão é cuidar dos mais necessitados.” E entre os mais necessitados estão aqueles jovens, aquelas crianças com deficiência mental. A Irmã Samia é para eles mais do que uma irmã. É mãe e pai ao mesmo tempo. É a amiga. Eles sabem que ali estão protegidos. Ao fim de 13 anos de guerra há quem continue, todos os dias, a secar lágrimas, a curar feridas. Uma dessas pessoas é a Irmã Samia. Quando se lhe pergunta como consegue ter tanta energia, como consegue estar sempre sorridente, amável, disponível para os outros, a Irmã Samia diz que é muito simples, que é muito fácil. Tudo se consegue com a oração. “A oração é a parte mais importante”.
Paulo Aido, in Voz de Lamego, ano 94/21, n.º 4749, de 10 de abril de 2024