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Editorial: Cristo quer a tua ajuda para amar

Estamos a viver a Semana Nacional Cáritas, que prevê o peditório de rua, as ofertas nas Eucaristias do fim de semana e donativos online. O primeiro compromisso é da oração, pois esta alimenta a nossa vontade, purifica as nossas intenções, converte-nos à humildade, faz-nos irmãos uns dos outros, em Cristo Jesus.

D. José Traquina, Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, titula a mensagem para esta semana: Cáritas, o amor que transforma! “Sabemos que só o amor transforma. É Cáritas. Só o amor tem essa força, esse dinamismo que é capaz de transformar o mundo em que vivemos numa terra de paz, num mundo de irmãos”. Na mesma mensagem, a citação de algumas palavras do Papa Francisco, na Fratelli Tutti (n.º 224), dizendo-nos que ser formos amáveis, seremos capazes de «prestar atenção, oferecer um sorriso, dizer uma palavra de estímulo, possibilitar um espaço de escuta no meio de tanta indiferença. Este esforço, vivido dia a dia, é capaz de criar aquela convivência sadia que vence as incompreensões e evita os conflitos. O exercício da amabilidade não é um detalhe insignificante nem uma atitude superficial ou burguesa. Dado que pressupõe estima e respeito, quando se torna cultura numa sociedade, transforma profundamente o estilo de vida, as relações sociais».

Como título desta reflexão, escolhemos uma canção de Cesáreo Gabaráin, sacerdote espanhol e compositor de músicas para a liturgia. É uma melodia que facilmente fica no ouvido e cujas palavras vale a pena reter. “Cristo quer a tua ajuda para amar… / Não te importes da raça nem da cor da pele; / ama a todos como irmãos e faz o bem! / Ao que sofre e ao triste dá-lhe amor… / Ao humilde e ao pobre dá-lhe amor. / Ao que vive a teu lado dá-lhe amor… / Ao que vem de outra terra dá-lhe amor. / Ao que fala outra língua dá-lhe amor… / Ao que pensa diferente dá-lhe amor. / Ao amigo de sempre dá-lhe amor… / E ao que não te saúda dá-lhe amor”.

Nestes dias que atravessamos, a atualidade destas palavras é por demais evidente. Alguns crentes poderão questionar-se sobre a “utilidade” da fé e da oração. Não há uma resposta fácil à barbárie que acontece na Ucrânia, provocando um rasto de destruição, de mortandade, abrindo velhas feridas, semeando o ódio e o desejo de vingança que sobrevirá nas futuras gerações. A fé é um dom que amadurece com a oração, colocando a confiança na omnipotência e no amor de Deus, mas a que podemos opor a nossa vontade, o nosso poder, o nosso egoísmo. Deus criou-nos livres, confiou-nos o mundo, faz-nos irmãos. A Caim responsabiliza-o pela morte do irmão. Somos responsáveis uns pelos outros. Pertencemo-nos! Sempre que não ajudamos o outro, quando o tratamos como inimigo, quando não lhe prestamos ajuda, estamos a trair a nossa originalidade. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Muitas vezes usámo-l’O para justificar perseguições e morte!

Numa cidade foi bombardeada, durante a segunda guerra mundial, os habitantes descobriram, debaixo dos escombros, a estátua de Jesus Cristo bastante danificada. Repararam-na, menos as mãos, pois os danos eram irreversíveis. Entre eles, duas opções, contratar um escultor para refazer as mãos ou deixá-la sem mãos, ferida, imperfeita, incompleta! Prevaleceu esta opção, a estátua de Cristo permaneceu sem as mãos. Por baixo da imagem colocaram as seguintes palavras: “Vós sois minhas mãos”.

A Capela do Seminário de Lamego tem um crucifixo sem mãos e sem braços. Eu e tu somos os braços de Cristo para abraçar, as mãos para abençoar, para apoiar, para ajudar a levantar; a voz de Cristo para bendizer, para semear palavras de esperança e de paz; somos os pés de Jesus que se colocam a caminho, ao encontro de todos, sobretudo daqueles que continuam na berma, tristes, desalentados, excluídos, sedentos de quem os faça sentir vivos. Cristo precisa de ti para amar!

Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 92/18, n.º 4649, 16 de março de 2022

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