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Cristãos da quinta-feira?!

Sim e não! O cristão não tem dia! Todos os dias, horas e segundos são válidos para viver, expressar e testemunhar a vida em Cristo acolhida no sacramento do Batismo e amadurecida a cada instante em pensamentos, palavras e obras.

Somos cristãos da quinta-feira, mas antes disso somos cristãos de Domingo, no Domingo e a partir do Domingo, para toda a semana, do primeiro ao oitavo dia, da criação à ressurreição, da Paixão à Páscoa, no Natal ao Pentecostes, na bonança e nas agruras da vida.

Há, no entanto, duas quintas-feiras que nos são preciosas, a da Semana Santa, no início do Tríduo Pascal, dia em que celebramos a Ceia do Senhor, a instituição da Eucaristia e do sacerdócio (ordenado), e a do Corpo de nosso Senhor Jesus Cristo (Corpus Christi). Quintas-feiras, santas e gloriosas, em que celebramos a entrega de Jesus, confrontados com a Sua presença real, com o Seu corpo e o Seu sangue entregue por nós. A quinta-feira santa antecipa o mistério que nos identifica como crentes, como cristãos, como católicos, a paixão redentora de Jesus e a Sua ressurreição ao terceiro dia.

Naquela “primeira” quinta-feira, Jesus mostrou-nos o caminho que nos fará verdadeiramente Seus discípulos, garantindo-nos o Seu corpo, a Sua vida por inteiro, ligando-nos como irmãos, se e sempre que fizermos o que Ele faz, com as Suas palavras e os Seus gestos: Isto é o Meu corpo, entregue por vós; Isto é o meu Sangue derramado para vossa salvação. Fazei isto em memória de Mim. A Ceia é também preenchida com um gesto inaudito, o lava-pés. Estando com os apóstolos à mesa, Jesus levanta-Se do seu lugar, toma uma bacia e lava-lhes os pés, enxugando-lhe com a pano que tinha à cintura (cf. Jo 13, 1-20). No final, percebemos que o louvor não está apenas em torná-l’O presente, mas cuidar do seu corpo nos corpos, nas vidas, dos nossos irmãos. “Vós chamais-me ‘o Mestre’ e ‘o Senhor’ e dizeis bem, porque o sou. Ora, se Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu vos fiz, vós façais também. Uma vez que sabeis isto, sereis felizes se o puderdes em prática”.

A segunda quinta-feira, é a do santíssimo Corpo e Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo e a certeza de que Ele vive e se faz peregrino connosco, prosseguindo na nossa vida, não apenas simbolicamente ou como mera recordação do passado, mas real e verdadeiro no sacramento da Eucaristia, memória e mistério da Sua morte e ressurreição. Vem com o Seu corpo e com o Seu amor, para que nos tornemos, n’Ele, um só Corpo.

Durante alguns Domingos, do XVII ao XXI do Tempo Comum, este ano de 28 de julho a 25 de agosto, escutámos o capítulo sexto de são João. Neste evangelista não nos é apresentada a instituição da Eucaristia. Na Última Ceia, são João narra o Lava-pés, mas neste sexto capítulo há toda revelação da Eucaristia que é Jesus. É o pão vivo descido do Céu! “Eu sou o pão vivo que desceu do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei de dar é minha carne, que Eu darei pela vida do mundo… Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e Eu o ressuscitarei no último dia. A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nele”.

A quinta-feira leva-nos à Páscoa, à manhã daquele primeiro dia da semana, nova criação, vida nova, ressurreição… Somos cristãos de Domingo e da Páscoa e queremos – temos esse compromisso e essa obrigação – levar essa luz, essa presença, Jesus vivo, a todo o mundo, a todas as pessoas, a todos os ambientes!

Somos ou não cristãos da quinta-feira?

Somos primeiramente cristãos do Domingo e da semana inteira!


Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 94/39, n.º 4767, de 28 de agosto de 2024.

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