«Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.»
Aquando de um nascimento, é comum dizer-se que a criança tem uma vida inteira pela frente.
Desde cedo que temos uma perceção totalmente errada do tempo, do nosso tempo, do tempo dessa vida, do tempo desse percurso.
De uma forma simplista, a nossa vida terrena é uma contagem decrescente no tempo. No milésimo seguinte à nossa criação, ainda antes do nascimento, já estamos em contagem decrescente para a nossa morte, para o nascimento na vida eterna.
Em toda a nossa vida só temos noção desta realidade, desta certeza, numa situação de perda, principalmente de perdas trágicas que nos marcam. No entanto, esse devia ser o nosso primeiro pensamento ao acordar: hoje pode ser o meu último dia! E de facto, um dia iremos acertar, quando será é que nunca saberemos.
De cada vez que beijamos os nossos pais ou os nossos filhos, quando discutimos com um amigo ou familiar, devemos ter noção que poderá ser a última vez que estamos juntos… ficaríamos descansados se nessa última vez não tivéssemos dado o abraço que devíamos?… se não disséssemos o quanto os amamos?… se não tivéssemos perdoado?
Cada encontro pode ser o último encontro, cada beijo pode ser o último beijo. Poderão ser eles a continuar a caminhada sem a nossa companhia… poderemos ser nós a ficar sem eles…
A nossa partida está sempre iminente, viver a contar com isso é a melhor forma de louvarmos a vida, de agradecer a Deus a oportunidade, de desfrutar da graça dos nossos familiares e amigos.
A vida eterna é certa, é uma bênção, mas é um mundo negro no horizonte de quem está do lado de cá a achar que seremos eternos por estas terras. Acreditar em Deus e aceitar o que Ele nos dá, ter confiança, é o primeiro passo para tranquilizar no momento da perda… evidentemente que o processo de luto é necessário e é um sofrimento atroz… mas, Deus está ao nosso lado a tentar acalmar o nosso coração e a dizer-nos: meu filho, brevemente estaremos todos juntos no paraíso.
Raquel Assis, in Voz de Lamego, ano 94/40, n.º 4768, de 4 de setembro de 2024.