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Caminho difícil, mas inevitável

Estamos na semana maior da nossa fé, onde revivemos a paixão e dor de Jesus, onde tentamos, ano após ano, entender e sentir os seus últimos momentos de vida terrena.

Deus é amor, Deus é Pai… mas um Pai que colocou o Seu único Filho à mercê da maldade pura, que sofreu a maior tortura e pior morte da época. Foi incompreendido, maltratado, desprezado, ridicularizado… por fazer a vontade do Pai. Difícil compreender para o comum dos mortais como um Pai é capaz de fazer semelhante coisa a um Filho!

Como referiu o Cardeal Dom José Tolentino Mendonça: “A verdadeira prova de fé não é a capacidade de compreender todas as coisas, mas a coragem de prosseguir mesmo quando não entendemos nada.”

Perante este quadro de sofrimento extremo, o mais fácil seria fugir destas ideias e doutrina da nossa religião, no entanto, a fé que Deus plantou no nosso coração impele-nos a seguir sem medo e a acreditar mesmo estando às escuras. Missão difícil pela nossa tentação inata de ver para crer… mas Deus nunca nos disse que o nosso caminho era fácil, apenas nos pediu para acreditar, tal como uma criança pequena depende, necessita, confia e se deixa guiar pelos pais.

Bento XVI ajuda-nos com as suas palavras: “Crer significa antes de tudo aceitar como verdade aquilo que a nossa mente não compreende totalmente. É preciso aceitar o que Deus nos revela sobre Si mesmo, sobre nós mesmos e sobre a realidade que nos circunda, também a invisível, inefável, inimaginável. Este ato de aceitação da verdade revelada alarga o horizonte do nosso conhecimento e permite-nos alcançar o mistério no qual a nossa existência está imersa. Não se concede facilmente um consentimento a este limite da razão. E é precisamente aqui que a fé se manifesta na sua segunda dimensão: a de se confiar a uma pessoa não a uma pessoa qualquer, mas a Cristo. É importante aquilo em que cremos, mas ainda mais importante é aquele em quem cremos.”

Não é o Padre que celebra a Eucaristia que deve ou não fazer-nos ir participar, não é o facto de estarem na Igreja pessoas que achamos serem pecadoras que nos impede de ir a casa do Pai, não é por não termos um lugar de destaque no coro que devemos deixar de ir contribui com a nossa voz… Deus está na Eucaristia, faz-Se corpo e sangue para nós, nada para além disso importa! Apenas Deus, apenas Cristo, apenas o nosso amor por Eles e Deles por nós é motivo suficiente para estarmos lá, fazermos a nossa parte, para nosso bem! Ao colocarmos outros motivos como prioridade para nos afastarmos da Igreja estamos a ser ingratos e a ir pelo caminho mais fácil da desistência. Jesus sofreu até à morte por nós, abstrairmo-nos de todas as distrações para fazer o que nos compete é mais exigente, mais difícil do que a missão de Jesus?

Durante esta semana vamos reviver na escuridão dolorosa da Paixão o sofrimento de Jesus e de Deus por nós. Saibamos aproveitar este silêncio da noite para rezar ao Pai, como Jesus no Monte das Oliveiras, para que o nosso coração possa renascer na luz da Páscoa do Senhor.


Raquel Assis, in Voz de Lamego, ano 93/20, n.º 4700, 5 de abril de 2023

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