A memória litúrgica de são Francisco de Sales, 24 de janeiro, é a data em que é apresentada a Mensagem do santo Padre para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, que ocorre na solenidade da Ascensão do Senhor, este ano a 12 de maio.
O Papa Francisco faz-nos regressar à temática do Dia Mundial da Paz: “Inteligência artificial e sabedoria do coração: para uma comunicação plenamente humana”. A Inteligência Artificial (IA) é uma preocupação crescente de muitos setores da sociedade. Os avanços tecnológicos nem sempre são acompanhados de humanismo e, por outro lado, não são acessíveis a todos.
Os riscos vão sendo conhecidos. É possível reproduzir a voz, “criar” fotos, colocar as pessoas em situações em que nunca estiveram. O próprio Papa já surgir com um fato a fazer esqui… Como outras tecnologias, também a inteligência artificial pode servir muitos propósitos e contribuir para ajudar no campo da saúde, da proximidade das pessoas, substituindo a força braçal em trabalhos agrícolas e/ou industriais; mas pode também acentuar injustiças, aprofundar conflitos e ruturas, potenciar a capacidade destrutiva de pessoas, grupos ou povos, denegrir a vida das pessoas.
A globalização torna-nos vizinhos, dizia Bento XVI, mas não nos faz irmãos. Em mensagens posteriores, o Papa Francisco faz-nos regressar a esta máxima. A fraternidade é possível, se não nos faltar a referência a um Pai comum. Sem a transcendência da paternidade divina, aí sim, fica pouco espaço para uma fraternidade autêntica e duradoura. A globalização tem sido sobretudo da indiferença. As redes sociais permitem-nos estar a par da vida das pessoas, melhor, daquilo que as pessoas querem mostrar, mas nem sempre nos mobilizam para ajudar, para os encontros reais e concretos, e apara acolher a diferença. Seguimos aqueles com quem nos identificamos, excluímos os demais!
“Poderão um dia os homens e as mulheres deste mundo corresponder plenamente ao anseio de fraternidade, gravado neles por Deus Pai? Conseguirão, meramente com as suas forças, vencer a indiferença, o egoísmo e o ódio, aceitar as legítimas diferenças que caracterizam os irmãos e as irmãs?… A raiz da fraternidade está contida na paternidade de Deus. Não se trata de uma paternidade genérica, indistinta e historicamente ineficaz, mas do amor pessoal, solícito e extraordinariamente concreto de Deus por cada um dos homens (cf. Mt 6, 25-30). Trata-se, por conseguinte, de uma paternidade eficazmente geradora de fraternidade, porque o amor de Deus, quando é acolhido, torna-se no mais admirável agente de transformação da vida e das relações com o outro, abrindo os seres humanos à solidariedade e à partilha ativa” (Papa Francisco, 2014).
Regressemos novamente à mensagem para o Dia Mundial das Comunicações, o Papa convida-nos, de novo e sempre, a partir do coração. “Neste tempo que corre o risco de ser rico em técnica e pobre em humanidade, a nossa reflexão só pode partir do coração humano… Somente (…) recuperando uma sabedoria do coração é que poderemos ler e interpretar a novidade do nosso tempo e descobrir o caminho para uma comunicação plenamente humana. O coração (…) é símbolo de integridade e de unidade, mas evoca também os afetos, os desejos, os sonhos, e sobretudo é o lugar interior do encontro com Deus”.
O grande risco é o homem tornar-se como Deus sem Deus, “cada coisa nas mãos do homem torna-se oportunidade ou perigo, segundo a orientação do coração. O próprio corpo, criado para ser lugar de comunicação e comunhão, pode tornar-se instrumento de agressão”. No que à informação diz respeito “não pode ser separada da relação existencial: implica o corpo, o situar-se na realidade; pede para correlacionar não apenas dados, mas experiências; exige o rosto, o olhar, a compaixão e ainda a partilha…”.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 94/12, n.º 4740, de 31 de janeiro de 2024.