Não estivéssemos nós a aproximar-nos do Natal!
Proponho-vos, como tenho vindo a fazer nas últimas semanas, acolher as palavras do santo Padre no contexto da JMJ, nos dias que entre nós se assumiu como peregrino, para rezar connosco, connosco caminhar, para nos relembrar o essencial do Evangelho.
No terceiro dia, o Papa Francisco reservou um tempo para confessar, no Parque do Perdão (Jardim Vasco da Gama), almoçou com alguns jovens na Nunciatura Apostólica, reservando o final da tarde para a Via-Sacra. Antes do almoço, encontro com os representantes de alguns centros de assistência e de caridade, no Centro Paroquial de Serafina. É desta intervenção que agora faço sobressair as palavras que me parecem mais incisivas, num convite à leitura integral desta e das demais intervenções feitas pelo Papa.
O Papa Francisco prende-nos com três aspetos: “Fazer juntos o bem, agir no concreto e estar próximo dos mais frágeis. Por outras palavras, fazer o bem juntos, agir concretamente, isto é, não só com ideias mas concretamente, estar perto dos mais frágeis”. Sublinhado imediato para a dimensão comunitária, agir, trabalhar juntos, pois isoladamente o desânimo cedo virá e, por outro lado, o trabalho, mais que fazer para os outros, é fazer com os outros, envolvendo mais velhos e mais novos, doentes ou sãos.
A pessoa não se define pela doença. A pessoa não é uma doença, não é um problema. “Cada um de nós é um presente, é um dom único, com os seus limites mas um dom precioso e sagrado para Deus, para a comunidade cristã e para a comunidade humana”. Recordemos que Deus nos chama pelo nome e nos chama com tudo o que somos, as qualidades e as fragilidades, os dons e as hesitações.
Partindo das palavras de um jovem, o Papa sublinhou, na esteira de são João XXXIII, que a Igreja não é um museu de arqueologia, mas o antigo fontanário da aldeia que fornece água às gerações atuais. “O fontanário serve para matar a sede das pessoas que chegam com o peso da viagem ou da vida, na sua dimensão concreta. Por conseguinte é necessária concretização, atenção ao ‘aqui e agora’, como aliás já fazeis com o cuidado dos pormenores e sentido prático, belas virtudes típicas do povo português”. E o santo Padre enfatizou, dizendo que “não existe amor abstrato; não existe! O amor platónico vive em órbita, não está na realidade. Real é o amor concreto, aquele em que se sujam as mãos”.
Proximidade aos mais frágeis, seguindo a postura de Jesus Cristo, o Bom Pastor que dá a vida pelas Suas ovelhas, que Se faz próximo e pobre para nos enriquecer com o Seu amor e a Sua presença. “O olhar feito de compaixão, próprio do Evangelho, leva-nos a ver as necessidades de quem mais precisa. Leva-nos a servir os pobres, os prediletos de Deus que Se fez pobre por nós (cf. 2 Cor 8, 9): os excluídos, os marginalizados, os descartados, os humildes, os indefesos. São eles o tesouro da Igreja, são os preferidos de Deus! E recordemo-nos sempre de não estabelecer diferenças entre eles; de facto, para um cristão, não há preferências face a quem, necessitado, bate à nossa porta: compatriotas ou estrangeiros, jovens ou idosos, simpáticos ou antipáticos…”.
Como exemplo, são João de Deus. Quando começou a pedir esmola, dizia a quem pedia: fazei bem a vós mesmos! “Ou seja, explicava que os gestos de amor são um dom primariamente para quem os cumpre, antes mesmo de o serem para quem os recebe; porque tudo o que se acumula para si mesmo perder-se-á, enquanto aquilo que se dá por amor nunca se desperdiça, mas será o nosso tesouro no céu”.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 94/04, n.º 4732, de 29 de novembro de 2023.