Homem simples, humilde, tímido, mas de uma profundidade enorme. Sábio nas palavras e capaz de tocar o coração de muitos.
A fé foi vivida até aos seus últimos dias, até ao seu último sopro. A sua forma de encarar as dificuldades, o seu amor pela Igreja que, como sucessor de Pedro, tentava guiar, levou-o, também pelo seu estado de saúde, a tomar a decisão de abdicar a ser Bispo Roma. Seis séculos depois, um Papa volta a abdicar da sua missão petrina, algo que apanha a própria Igreja desprevenida.
Poderíamos até pensar que seria um ato egoísta da parte de Bento XVI. Deixar a barca à deriva. Mas não. Foi um ato de coragem. Um ato de caridade e de esperança. De caridade, pois as forças físicas já não lhe permitiam lutar contra os “lobos vestidos de cordeiros” que se alinhavam fileiras contra as mudanças necessárias e queridas para a sua amada Igreja. Um ato de esperança, pois confiava ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, a escolha de um novo sucessor de Pedro que trouxesse uma lufada de ar fresco aos corredores do Vaticano, e assim nova luz no caminho da Igreja.
Bento XVI parte, mas deixa-nos um legado enorme. Palavras cheias de conteúdo e de sentido para os nossos dias. É necessário caminhar rumo a Cristo, na Fé, Esperança e Caridade, a exemplo de Bento XVI.
Iara Madureira, in Voz de Lamego, ano 93/07, n.º 4687, 4 de janeiro de 2023