Não há nada mais grandioso que o amor que une os pais aos seus filhos
Um sentimento que resiste a todas as tormentas, que brota desde o primeiro batimento de vida, e que cresce, a cada dia, até se tornar inabalável e duradouro.
Não existe outro amor assim: forte e incondicional.
Quando Paula e Carlos concretizaram, há vinte e sete anos, o desejo de ter o primeiro filho depositaram no Rui Pedro todos os sonhos de uma vida longa e feliz.
O destino haveria, no entanto, de colocar à sua frente o maior desafio das suas vidas.
Com apenas oito anos de idade, Rui Pedro começou a apresentar os primeiros sintomas de uma doença que foi diagnosticada, mais tarde, como neurodegenerativa grave. Sem causas determinadas e altamente incapacitante, esta condição médica ataca o sistema nervoso e mata os neurónios, essenciais para o cérebro. Um processo lento e irreversível que condiciona os movimentos e conduz à perda de funções cognitivas, muito semelhante à demência.
Superado o choque inicial, começava o longo calvário desta família de Lamego, com todos os esforços concentrados na recuperação do Rui Pedro.
Num vai e vem permanente de deslocações a clínicas e unidades hospitalares, já foi submetido a várias cirurgias, para além de realizar diversas terapias a um ritmo quase diário.
Para tentar contrariar, de alguma forma, a degradação da sua condição médica, os pais têm aceite o recurso a terapias inovadoras sugeridas pelos médicos. Uma janela de esperança que, infelizmente, apenas garantiu até agora leves melhorias… e mesmo assim, passageiras.
Não é por isso de estranhar que Paula tenha sido obrigada a abandonar o emprego para se dedicar de corpo e alma a cuidar do Rui Pedro.
“De tudo, o mais difícil é assistirmos, impotentes, à degradação do nosso filho. Nunca sabemos se vai conseguir andar ou comer. Os médicos dizem que nunca viram um caso igual. É único no nosso país e no mundo e por isso já foi analisado até nos Estados Unidos. Os especialistas primeiro garantiram que a evolução da doença ia estagnar até aos 18 anos, mas a verdade é que aconteceu precisamente o contrário”, explicam Paula e Carlos ao projeto #lamegoeuacredito.
Numa trajetória angustiante, Rui Pedro tem perdido a mobilidade, a fala e as capacidades cognitivas. Desloca-se agora quase sempre de cadeira de rodas devido à rigidez muscular.
Pese embora todo o sofrimento pelo qual tem passado, este jovem é um exemplo de superação. Já alcançou pequenas conquistas, simbólicas é certo, mas que ainda assim dão alento à família: concluiu o 12º ano de escolaridade na vertente de ensino especial e tem uma legião de amigos que o visitam muitas vezes para dar algum ânimo.
Recebe todos com o mesmo sorriso rasgado e tenta puxar sempre para tema de conversa a paixão pelo “seu” Sporting.
Nesta caminhada ganhou ainda o amor imenso das irmãs – a Rita e a Maria – que lhe dedicam todos os mimos e cuidados. O Rui Pedro é o rei da casa.
Os tratamentos a que é submetido, como a fisioterapia e a osteopatia, são muito dispendiosos. Para agravar este estado de coisas, não são comparticipados pelo Estado. Os pais organizam campanhas solidárias de recolha de donativos para ajudar a custear as terapêuticas. Um esforço incessante para mitigar a dor do Rui Pedro. E já fizeram quase tudo: sorteios, caminhadas, espetáculos musicais, entre outras iniciativas.
A campanha mais recente – com o lema “Juntos Somos Mais Fortes” – tem agora à venda canetas e pulseiras.
Os próximos anos serão, certamente, uma incógnita para esta família. Espera-os ainda uma longa luta pela saúde do Rui Pedro.
Mas é o amor, sempre o amor, que ainda o poderá salvar. “Confesso que não sou muito otimista, porque o acompanho diariamente. Não vejo um futuro risonho. Tentamos dar-lhe o máximo de qualidade de vida, mas é muito difícil. Às vezes, nem sabemos se está feliz”, diz, entre lágrimas, a mãe.
Ricardo Pereira, in Voz de Lamego, ano 93/18, n.º 4698, 22 de março de 2023
#lamegoeuacredito