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Editorial: Qual a pressa que te move?

Há pressa no ar… refrão tantas vezes entoado no percurso cada vez mais curto até à Jornada Mundial da Juventude, de 1 a 6 de agosto de 2023, em Lisboa. O caminho, mais próximo, começou no Panamá, quando o santo Padre revelou a cidade escolhida para a JMJ seguinte. Inicialmente seria neste ano que agora decorre, mas a pandemia viria a remarcar, desacelerando a preparação.

Há pressas que não podemos adiar. A vida cumpre-se agora, hoje; amanhã será sempre tarde. Como cristãos, estamos comprometidos com a pressa em levar Jesus a toda a parte, a todas as pessoas e ambientes. O cristão é necessariamente missionário. Discípulo missionário. É a sua essência. É a nossa identidade. Não tem outro jeito. A alegria de nos sabermos filhos de Deus, irmãos de Jesus, apressa-nos a revelar aos outros esta boa notícia. A alegria não se guarda para si. A festa só se faz com outros. Festejas sozinho? És néscio! A festa extravasa para lá do nosso mundo. A tristeza, ao invés, encolhe-nos sobre nós mesmos, encerra-nos num quarto, em casa, ou num mundo obscuro. Isolamo-nos, não queremos ver ninguém, não queremos ouvir nenhuma voz.

Na Visitação, Maria e Isabel são testemunhas de como a alegria se manifesta ao mundo, até dentro do ventre. “Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor? Eis que, quando a voz da tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança exaltou de júbilo no meu ventre” (Lc 1, 43-44). A proximidade, a voz, o abraço de Maria e de Isabel, permitem a João encontrar-se com a notícia boa, com o Filho de Deus, e saltar de alegria.

O tema da JMJ 2023 – Maria levantou-se e pôs-se apressadamente a caminho (Lc 1, 39) – envolve-nos na pressa de Nossa Senhora. O que sabe não se destina à cultura geral ou à acumulação de conhecimentos; o que ela sabe salva, alegra, tem de ser comunicado, se não em palavras, em gestos e em obras. Maria era uma jovem sossegada e tranquila; dirão alguns, mulher de oração, discreta e tímida. Ela vai ser a Mãe do filho do Deus Altíssimo e sua parenta Isabel, que era estéril, também se encontra grávida, pela mesma força milagrosa de Deus. Depois de dizer SIM, Maria levanta-se e dirige-se, com pressa, para casa da sua prima. Diz-se das mulheres e talvez também se verifique aqui: Maria tem necessidade, urgência, em partilhar com alguém, a alegria que recebeu, não consegue conter em si tamanho mistério. Se Isabel foi agraciada por Deus, por certo saberá ver, perceber, intuir o mistério que inunda o seu ventre e a sua vida.

Na sua carta pastoral, para este ano de 2022-2023, D. António Couto sublinha a aceleração da cena que é a evangelização. A pressa que de Maria que há de ser a pressa dos discípulos de Jesus.

Há pressas que são doentias, quando não se vive nada inteiramente. Vive-se em fuga, ansiosamente, sem se comprometer com ninguém, sem se envolver na transformação de lugares e ambientes! Há pressas que corroem, desgastam, destroem, não deixam marcas, não criam laços, não transformam, deixam apenas vazio e treva.

E há esta pressa, não apenas no chegar, mas em levar, também pelo caminho, a Boa Nova que é Jesus.

“Ide: … Não leveis nem bolsa nem alforge nem sandálias, nem vos demoreis a saudar alguém pelo caminho”.


Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 93/02, n.º 4681, 16 de novembro de 2022

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