«A Sua misericórdia se estende de geração em geração»
Lc 1, 50
Quase a iniciar a Jornada Mundial da Juventude, é celebrado o III Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, este ano a 23 de julho, sob o tema proposto pelo Papa Francisco, «A Sua misericórdia se estende de geração em geração» (Lc 1, 50).
O choque de gerações é tanto maior quanto maior for a falta de empatia. Hoje, a juventude e a velhice vivem em lados opostos, com ritmos e em lugares completamente distintos. Os jovens vivem numa corrida, rodeados de tantas e tantas coisas que nem conseguem observar o que se passa à sua volta, vivem sem viver e apenas por viver. Os idosos, sentados, sozinhos, no silêncio, relembram toda uma vida, todos os seus obstáculos e como os conseguiram ultrapassar, têm mágoa por verem uma nova juventude “perdida” num mundo de oportunidades e facilidades que eles não tiveram. São opostos que se encaixam, houvesse empatia, e curiosidade nessa aproximação.
Na mensagem para o III Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, o Papa Francisco alerta para isso mesmo «A amizade duma pessoa idosa ajuda o jovem a não cingir a vida ao presente e a lembrar-se que nem tudo depende das suas capacidades. Por sua vez, aos mais velhos, a presença dum jovem abre à esperança de que não se perderá tudo aquilo que viveram e se vão realizar os seus sonhos.»
A 23 de fevereiro de 2022, o Santo Padre iniciou uma nova ronda de Catequeses, desta vez sobre a Velhice, onde, logo na primeira mensagem, retrata muito bem esta distância e a importância da sua aproximação e interação: «A juventude é bela, mas a eterna juventude é uma alucinação muito perigosa. Ser ancião é tão importante – e belo – exatamente importante como ser jovem. Lembremo-nos disto. A aliança entre as gerações, que restitui ao humano todas as idades da vida, é a nossa dádiva perdida e devemos recuperá-la. Deve ser encontrada novamente, nesta cultura do descarte e nesta cultura da produtividade.». «Os idosos têm recursos de vida já vivida aos quais podem recorrer a qualquer momento. Ficarão parados a ver os jovens perderem a visão, ou acompanhá-los-ão aquecendo os seus sonhos? Perante os sonhos dos idosos, o que farão os jovens? (…) o importante não é apenas que o idoso ocupe o lugar da sabedoria que tem, de história vivida na sociedade, mas também que haja um diálogo, que fale com os jovens. Os jovens devem dialogar com os idosos, e os idosos com os jovens. E esta ponte será a transmissão de sabedoria à humanidade.»
Quantas vezes nos aconteceu estarmos perante um dilema e ter a curiosidade do que fazer, como fazer? Alguém que já passou por inquietações semelhantes pode ser o nosso melhor apoio e ponto de aprendizagem. Ao ter oportunidade de ensinar, o ânimo aumenta, faz o idoso sentir-se útil, ajuda a evitar que alguém cometa os mesmos erros, ao mesmo tempo que está acompanhado, já não está sozinho e tem alguém que o ouça com verdadeira atenção. É uma troca que vale mais do que qualquer coisa, todos ganham!
«A velhice é um presente para todas as idades da vida. É um dom de maturidade, de sabedoria»
No fim da primeira catequese, o Papa Francisco citou o poeta Francisco Luis Bernárdez: “Tudo o que a árvore tem de florescido vem do que está enterrado”, e explica: «Não esqueçamos que tanto na cultura familiar como na social os idosos são as raízes da árvore: têm toda a história ali, e os jovens são como as flores e os frutos. Se o sumo não vier, se não tiver este “soro” – digamos – das raízes, nunca poderão florescer.»
Raquel Assis, in Voz de Lamego, ano 93/35, n.º 4715, 19 de julho 2023