No próximo ano, a virtude da esperança estará em destaque nos desafios, na reflexão, na oração, nas celebrações jubilares, pois foi essa a indicação clara do Papa Francisco, na Bula em que convoca, justifica, dá razões e conteúdo para este tempo que há de ser de graça, de salvação, de reconciliação e de paz: Peregrinos de Esperança.
A novena e a Festa de Nossa Senhora da Conceição, de Tabuaço, teve como uma das palavras-chaves a esperança. A preparar a festa da padroeira, a preparar o Natal, expressão do mistério da redenção, a preparar o Jubileu 2025!
Essa é também a tónica dada pelo nosso Bispo com a sua carta pastoral “Jubileu, o país da vida agraciada”. A graça de Deus levar-nos-á a acolher a esperança, fundada no mistério pascal, na vida divina. O Jubileu respira a esperança de um mundo melhor, pautado pela verdade e pela paz, pela justiça e solidariedade, pelo perdão e pela compaixão, pela misericórdia e pela partilha solidária, pela inclusão social e pelo cuidado aos mais frágeis, pelo respeito pela criação e na promoção do bem comum. Seremos verdadeiramente terra de vida agraciada sempre sejamos e nos sintamos irmãos, filhos amados do mesmo Pai.
D. António Couto coloca a esperança em modo de peregrinação, “fazendo deste Jubileu uma festa de peregrinação… Uma FESTA, na Bíblia, é sempre um encontro marcado com Deus e com os irmãos. Sendo um encontro marcado com Deus e com os irmãos, então é sempre um espaço de alegria, de filialidade e de fraternidade”.
Por outro lado, a esperança é também suporte da fé. Com efeito, “a fé brota da esperança… todavia, a esperança é frágil, frágil-forte, é como um sonho, que não nos leva a construir de baixo para cima, mas de cima para baixo, desde o cume, desde Deus, como gosta de dizer Agostinho, de além do país da meia-noite, como refere Jeremias”.
Se a esperança se apoiar em nós, na nossa fragilidade e finitude, se se limitar ao hiato de tempo que vai do nascimento à morte, será uma esperança limitada e finita, morrerá connosco, desaparecerá no meio das turbulências e desastres, desfazer-se-á quando as ilusões forem subjugadas pelas adversidades. No mundo atual, devastado pelas guerras, conflitos que parecem intermináveis, multiplicando a pobreza, a escravização de pessoas, o tráfico e a corrupção, a esperança esfuma-se. O embate com a realidade destrói as nossas esperanças muito humanas. A esperança cristã funda-se em Deus.
O nosso Bispo, prossegue, dizendo que “a esperança bíblica e cristã não engana (Rm 5,5) nem acaba já ali, é sem medida, tem a ver com o nunca antes visto, aponta para além das leis da natureza, está em luta aberta contra as evidências. Trata-se de «esperar contra a esperança (humana)» (par’ elpída ep’ elpídi) (Rm 4,18), «contra a evidência». É assim que Paulo define a atitude crente de Abraão. No mundo hebraico e bíblico, esperança diz-se tiqwah, e deriva de qaw, que pode significar «fio», «fita métrica», «cordel para medir». Percebe-se que tem a ver com o «fio» que se estica para medir, até chegar à medida ainda sem medida e sem solução à vista – «esperança vista não é esperança» (Rm 8,24) –, mas que tem solução recebida de Deus, do cume, de além do país da meia-noite. É como o «fio», a «corda», o «arame», a «linha», a «pauta musical» estendida entre a dor e a consolação esperada, entre a humanidade e Deus”.
A esperança é teologal, é dom de Deus, dom a suplicar, rezando, dom a acolher e a amadurecer no compromisso com este mundo e este tempo, para levarmos aos outros a bondade e o amor de Deus, concretizável nas obras de misericórdia.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 95/5, n.º 4782, de 11 de dezembro de 2024