Muitos nomes podemos atribuir a Deus! Assim o fazemos em relação a Nossa Senhora, por exemplo, e assim o fazemos em relação aqueles/as que amamos e são essenciais na nossa vida. “Deus da Paciência” mostrar-nos-á como a paciência de Deus gera vida e salvação.
Como o título insinua, esta esperança não é uma paciência caracterizada pela desistência ou pelo desânimo, ainda que possa ser sofrível, mas é uma paciência criadora se e baseando-se na esperança. Aquela esperança que tem Deus como garantia. A vida não se encerra no limite do tempo ou do espaço, tem a durabilidade história, somos criaturas, com início e fim, mas, em definitivo, a vida abre-se, prolonga-se e é revitalizada pela eternidade de Deus. Esta é a certeza da nossa fé: Deus é todo-poderoso e eterno, criou-nos por amor, não a prazo ou a prestações, mas na durabilidade do amor. O amor exige tempo, um tempo sem limites para o futuro. Um amor que se projeta a prazo, com um limite ou termo anunciado, na verdade já deixou de o ser. Não há amor aos pedaços e por mais pedaços que se juntem, se se colocar na condicional, está a apostar-se no seu falhanço. Não é o amor que falha ou acaba. Eu e tu é que falhamos. Se eu me fixo mais nos meus interesses, naquilo que me faz bem e não no bem que posso ser e fazer àquele/a que amo, se eu me fixo mais nos defeitos, insuficiências, imperfeições daquele/a que amo, em vez de agradecer a sua presença, o seu olhar e suas qualidades, é possível que a relação se torne inviável ou mesmo destrutiva.
É uma paciência que se funda na esperança de um Deus que não nos falha, nem agora, nem na vida futura. Muito pobre, melhor, miserável será a vida que não tem uma meta que lhe alcance a plenitude e faça reencontrar a vida, inteira, como um todo, com aqueles e aquelas que preencheram e preenchem a existência.
Devedores da bula papal com a qual o Papa Francisco convoca o Jubileu Ordinário do Ano 2025, A Esperança não engana (spes non confundit – Rom 5,5), vejamos a correlação entre esperança e paciência. Escreve são Paulo: «Gloriamo-nos também das tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência, a paciência a firmeza, e a firmeza a esperança» (Rm 5, 3-4). E reflete o papa: “Para o Apóstolo, a tribulação e o sofrimento são as condições típicas de todos aqueles que anunciam o Evangelho em contextos de incompreensão e perseguição (cf. 2 Cor 6, 3-10). Mas em tais situações, através da escuridão, vislumbra-se uma luz: descobre-se que a evangelização é sustentada pela força que brota da cruz e da ressurreição de Cristo. Isto faz crescer uma virtude, que é parente próxima da esperança: a paciência. Habituamo-nos a querer tudo e agora, num mundo onde a pressa se tornou uma constante. Já não há tempo para nos encontrarmos… A paciência foi posta em fuga pela pressa, causando grave dano às pessoas; com efeito sobrevêm a intolerância, o nervosismo e, por vezes, a violência gratuita, gerando insatisfação e isolamento. Além disso, na era da internet, onde o espaço e o tempo são suplantados pelo «aqui e agora», a paciência deixou de ser de casa… Frequentemente são Paulo recorre à paciência para sublinhar a importância da perseverança e da confiança naquilo que nos foi prometido por Deus, mas sobretudo testemunha que Deus é paciente connosco: Ele, que é «o Deus da paciência e da consolação» (Rm 15, 5). A paciência – fruto também ela do Espírito Santo – mantém viva a esperança e consolida-a como virtude e estilo de vida. Por isso, aprendamos a pedir muitas vezes a graça da paciência, que é filha da esperança e, ao mesmo tempo, seu suporte”. A nossa pressa, muitas vezes, gera conflito e destrói relacionamentos; a paciência amorosa de Deus dá-nos tempo para nos convertermos e acolhermos a Sua graça.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 94/34, n.º 4762, de 10 de julho de 2024.