São faces da mesma moeda. Não se confundem, mas facilmente se relacionam. Esperar exige paciência. Sendo a esperança uma virtude teologal pressupõe espera, confiança em Deus, paciência. Não se trata de resignação ou de cruzar os braços. Quantas vezes isso acontece ao nível da linguagem e das atitudes: é a vontade de Deus, não há nada a fazer, é aceitar, Jesus também sofreu, nós temos que sofrer também; Ele, que era Deus, sofreu muito mais do que nós, se sofrermos um pouco, não fazemos mais do que Ele!
Numa perspetiva mais ampla, a resignação também é fruto da esperança, não no sentido da desistência, mas da aceitação do que é inevitável, do que faz parte da nossa condição mortal e finita. A doença como a morte podem ser adiáveis, cuidando da saúde e não se colocando em situações de perigosidade, ainda que nos sejam desconhecidas a hora e os momentos futuros. A esperança ajuda-nos, por outro lado, a relativizar as tempestades da vida, sabendo que, fazendo parte, são passageiras, o sol continua a comandar e para lá das nuvens continua a brilhar. Quantas vezes as nuvens são tão carregadas que se torna extremamente difícil acreditar na existência do Sol e na sua força para aquecer a alma e rasgar os céus para chegar até nós.
Durante o próximo ano, há de haver muitas ocasiões para se falar da esperança. O Jubileu Ordinário do Ano 2025 assim o exige. O jubileu proclama a graça de Deus, a Sua misericórdia infinita, a firme esperança que a primeira e a última palavras são do amor, da vida, de Deus. Como cristãos, a celebrar dois mil e vinte cinco anos do nascimento de Jesus Cristo, cabe-nos gritar bem alto a esperança, que tem rosto, o próprio Jesus, o Evangelho da Alegria, do Amor, o Evangelho da Esperança que se funda no mistério pascal. Deus não está encerrado no firmamento das alturas, Deus fez-Se e faz-Se caminho, mostra-Se, expõe-Se, encarna, faz-Se um de nós. A encarnação exprime, traduz e concretiza a omnipotência que se ajusta a nós, ao nosso tamanho, finitude e compreensão. Deus não apenas nos procura, mas vem ao nosso encontro, assume a nossa fragilidade humana, por amor. Só o amor tem a capacidade de se fazer pequeno, de reduzir quase à insignificância aquele ou aquela que se entrega nos seus braços. Só o amor nos faz ajoelhar diante de outro, debruçando-nos para o ajudar a levantar, ajudando-o a crescer. João Batista dirá de Jesus: é necessário que eu diminua para que Ele cresça. É a grandeza de Maria capaz de criar espaço para que Deus nasça na humanidade. Só o amor dá espaço para que o outro seja, em todo o seu esplendor!
Na Bula com que convoca o Jubileu, o Papa aborda longamente a temática da esperança, desde logo com o título escolhido, as primeiras palavras escritas: A esperança não engana (Spes non confundit – Rom 5, 5). No Jubileu Extraordinário da Misericórdia o Papa enviou os missionários da Misericórdia, cuja missão ganha a acentuação da Esperança, pois agora se convertem em Missionários da Esperança. Por outro lado, neste tempo de grandes tribulações, é como peregrinos da Esperança que caminhamos, em conjunto, seguindo os passos de Jesus, procurando que a Sua luz ilumine os tempos presentes e nos deixe vislumbrar o que vem adiante. “As tempestades nunca poderão prevalecer, porque estamos ancorados na esperança da graça, capaz de nos fazer viver em Cristo, superando o pecado, o medo e a morte. Esta esperança, muito maior que as satisfações quotidianas e as melhorias nas condições de vida, transporta-nos para além das provações e exorta-nos a caminhar sem perder de vista a grandeza da meta a que somos chamados: o Céu”.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 94/33, n.º 4761, de 3 de julho de 2024.