Em vésperas da Solenidade da Imaculada Conceição, Padroeira e Rainha de Portugal, para falarmos de Maria, teremos como referência as palavras do santo Padre, em Fátima, por ocasião da JMJ 2023. Como já referi, vale a pena rever e reler os textos, discursos, mensagens e homilias do santo Padre na Jornada Mundial da Juventude. O ponto de encontro foi Lisboa, porém o Papa não quis deixar passar a oportunidade para, novamente, se fazer peregrino de Fátima, pois, como sublinhou, Maria é a primeira peregrina.
“A peregrinação é precisamente uma caraterística mariana, porque a primeira a fazer uma peregrinação, depois da anunciação de Jesus, foi Maria. Logo que soube que sua prima se encontrava grávida – esta estava já em idade avançada –, Maria saiu correndo. Traduzindo um pouco livremente a expressão do Evangelho «dirigiu-se à pressa», diríamos que «Ela saiu correndo»; saiu correndo levada pelo desejo de ajudar, de estar presente”.
Sendo um sábado, a meditação do terço seguiu os mistérios da alegria… “Rezámos o terço, uma oração muito bela e vital; vital, porque nos põe em contacto com a vida de Jesus e de Maria. E meditámos os mistérios da alegria, que nos lembram que a Igreja não pode ser senão a casa da alegria”.
A alegria é uma característica fundamental da vida do cristão, pois confia que o amor de Deus vencerá todas as adversidades. Alegria que gera anúncio. É possível que a tristeza isole as pessoas. Como dizia Liev Tolstói, cada família vive a tristeza à sua maneira. No sofrimento e na pobreza não existem famílias iguais, nem se aparentam. Podemos concluir que a tristeza gera sofrimento, isolamento, afastamento dos demais. Não queremos que nos aborreçam, já temos carga que nos chegue. Já a alegria liberta-nos, torna-nos expansivos, queremos correr, saltar, gritar a nossa alegria. Quando somos contagiados pela Boa Nova, no encontro com Jesus ressuscitado, se é um encontro verdadeiro, então temos, não apenas necessidade, mas urgência em partir, em contagiar os outros, em mostrar que ser cristãos nos enche de contentamento, de júbilo. Assim o é com Maria. A alegria é (quase) equivalente à graça. A cheia de graça é preenchida de uma alegria que a faz sair ao encontro de Isabel. O mistério de Deus não se confina, não pode ser reduzido, não cabe no coração humano, precisa de se libertar nas palavras e nas obras, no testemunho de vida.
Por outro lado, a Capelinha das Aparições constitui, salientou o santo Padre, “constitui uma bela imagem da Igreja: acolhedora, sem portas. A Igreja não tem portas, para que todos possam entrar. E aqui podemos insistir também no facto que todos podem entrar, porque esta é a casa da Mãe, e uma mãe tem sempre o coração aberto para todos os seus filhos, todos, todos, todos, sem excluir nenhum”.
Nossa Senhora é Mãe de Jesus, mas é nossa Mãe também e como Mãe quer-nos bem a todos, está disposta a acolher todos. Ela é Mãe solícita… “A Virgem «que sai correndo», sempre que há um problema; sempre que A invocamos, Ela não demora a vir; é solícita. Nossa Senhora solícita: gostais assim? Digamo-lo todos juntos: «Nossa Senhora solícita». Apressa-Se, para estar perto de nós, apressa-Se porque é Mãe. Em português, dizemos «apressada» – observa-me D. Ornelas. «Nossa Senhora apressada»! E é assim que acompanha a vida de Jesus; e não Se esconde depois da Ressurreição, acompanha os discípulos à espera do Espírito Santo; e acompanha a Igreja que começa a crescer depois do Pentecostes. Nossa Senhora que Se mostra solícita e Nossa Senhora que acompanha. Acompanha sempre. Nunca é protagonista. O gesto com que Maria Mãe acolhe é duplo: primeiro acolhe e depois aponta para Jesus. Maria, na sua vida, não faz senão indicar Jesus: «Fazei o que Ele vos disser». Segui Jesus”.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 94/05, n.º 4733, de 6 de dezembro de 2023.