Na edição desta semana da Voz do Lamego, gostaria de prestar uma homenagem a todos os emigrantes que, corajosamente, embarcam na difícil jornada em busca de uma vida melhor em terras estrangeiras, enfrentando desafios emocionais que muitas vezes são invisíveis aos olhos dos que ficam.
A vida de um emigrante é marcada por uma constante dualidade.
Ao deixar o seu país de origem, buscam melhores oportunidades, uma condição de vida mais digna e, muitas vezes, a possibilidade de sustentar as suas famílias à distância. No entanto, essa decisão corajosa traz consigo um fardo emocional profundo e complexo.
Longe da família, dos amigos, dos lugares familiares e de tudo com o qual sempre se identificaram, os emigrantes vivem uma saudade que é difícil de expressar em palavras.
A cada ano, contam os dias para regressar à sua terra natal, na esperança de sentir novamente o calor do seu lar. Mas, ironicamente, quando finalmente chegam, encontram-se num paradoxo doloroso: sentem que já não pertencem ali.
As vivências no novo país moldam as suas perceções, hábitos e até mesmo as suas identidades. As mentalidades são diferentes, as formas de viver divergem, e aquele que retorna ao seu país de origem se sente, muitas vezes, um corpo estranho. A saudade que sentem pelo lar mistura-se com a estranheza de já não pertencer ali.
O que era familiar transforma-se em algo distante e desconexo. A comida, os sabores, os cheiros que antes traziam conforto, agora são acompanhados por uma sensação de deslocamento. No país onde passam a maior parte do ano, procuram incessantemente por qualquer lembrança de casa – um prato típico, uma conversa na língua materna – mas, mesmo assim, não se sentem completamente parte daquele novo lugar.
Este dilema cria um perpétuo sentimento de desenraizamento. No país estrangeiro, suspiram pelo lar, pela cultura e pelos entes queridos. No retorno, enfrentam a dolorosa realidade de que o tempo não para e que as mudanças que ocorrem na sua ausência os afastam ainda mais de suas raízes.
A vida de um emigrante é, assim, uma experiência de estar entre dois mundos, sem se sentir plenamente em casa em nenhum deles. É um sacrifício emocional que muitos fazem em busca de uma vida melhor, movidos pela esperança e pelo amor por aqueles que deixaram para trás.
A entrada de imigrantes no nosso país tem suscitado muitas críticas nos últimos tempos. Gostaria que, através deste artigo, pudessem refletir e sentir alguma empatia, reconhecendo a dificuldade daqueles que estão aqui, longe de suas casas e das suas famílias, enfrentando desafios diários em busca de um futuro melhor.
É essencial desmistificar as críticas infundadas e reconhecer a coragem desses indivíduos. Assim como muitos portugueses buscaram novas oportunidades além-fronteiras no passado, hoje são outros que veem em Portugal uma oportunidade para recomeçar. Eles trazem consigo sonhos, esperanças e uma força de vontade que merece respeito e acolhimento.
Que este artigo sirva como um tributo a todos os que enfrentam essa luta silenciosa. Que a sua coragem seja reconhecida e que as suas histórias inspirem empatia e compreensão. Afinal, são esses bravos indivíduos que constroem pontes entre nações e culturas, enriquecendo o mundo com suas experiências e sonhos. Que possamos acolhê-los com o coração aberto, lembrando sempre que a verdadeira riqueza de um país reside na diversidade e na solidariedade entre os povos.
Mara Santos, in Voz de Lamego, ano 94/34, n.º 4762, de 10 de julho de 2024.