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A casa dos Olhares, de Daniele Mencarelli

Arrebatador do primeiro ao último instante, das primeiras linhas até às últimas palavras, este é um romance que toca de perto a realidade, com traços autobiográficos do autor, conforme a informação da editora. O narrador é a personagem principal, o próprio Daniele.

O Hospital Pediátrico Bambino Jesus, em Roma, sob a jurisdição do Vaticano – Há cem anos, o Hospital Pediátrico Bambino Gesù se tornou o “Hospital do Papa”, um ponto de referência para o atendimento de todas as crianças doentes em Roma e em todo o mundo. Uma “história de amor”, como destaca o vídeo oficial que comemora o evento, iniciada com a doação feita em 20 de fevereiro de 1924 à Santa Sé, por meio do então cardeal vigário Basilio Pompili e com o consentimento de Pio XI, pelos duques Salviati, que fundaram o hospital em 1869. Doze leitos em uma casa de propriedade dos duques Arabella e Scipione Salvati, na Via delle Zoccolette, no centro de Roma, fizeram dele o primeiro hospital pediátrico italiano (https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2024-02/cem-anos-da-transferencia-do-hospital-bambino-gesu-a-santa-se.html) – é o local do novo trabalho de Daniele, jovem poeta, enredado numa vida autodestrutiva, primeiro a droga e a toxicodependência, depois o álcool. É um farrapo que traz desgosto e sobressalto aos pais, ao irmão e à irmã, aos cunhados, a qualquer altura pode aparecer morto, e já foram tantos os acidentes. Pode matar-se a conduzir ou matar outros. Uma vida degradante. De hospital em hospital, de cura em cura, de promessas e recaídas. Poderá este novo trabalho resgatá-lo a uma vício tão destrutivo?

As situações que encontra são avassaladoras. Integra uma equipa de limpeza, a cooperativa. No primeiro dia, o primeiro embate, sente-se atraído por uma luz forte, uma criança, será uma festa, a Primeira Comunhão? Afinal, a menina está num caixão, pais e familiares rodeiam. É uma imagem forte, marcante, que lhe provoca sentimentos contraditórios. O refúgio é o vinho, habitualmente branco. Chega a fazer um trato com os pais, não bebe durante a semana, bebe apenas ao fim de semana. Toc-toc, o barulho na janela que o atrai. Afinal, saberá após a sua morte, era o Alfredo, duplo transplante de rim, de que nunca mais recuperou, indo parar aos cuidados intensivos de forma recorrente. Desta vez não resistiu. Como Toc-toc, Daniele já tinha estabelecido um ritual, quando o via à janela e a tristeza que lhe provocava quando se afastava. Mais uma bebedeira! Até ao limite. Como é que a família há de confiar nas suas promessas. Volta sempre ao mesmo. Mais uma hospitalização. O médico quer interná-lo, para desintoxicação alcoólica; em reunião familiar, o veredito é o mesmo, internamento. Mas a sua opção é não largar o trabalho de limpeza no hospital, pois aí reside a convicção de que se salvará.

Na passagem para um dos pavilhões, encontra uma irmã-freia a olhar para uma criança com o rosto deformado, horripilante, mas pode testemunhar os gracejos da irmã, a falar e rir com a criança, com os pais, a brincar, sem nenhuma afetação, sem desviar o olhar ou fazer trejeitos, simplesmente olha para o menino e não para as suas deformações. É este o olhar que o salva e são estes olhares que quer preservar. A sua veia poética vem ao de cima. E mais não se pode dizer, pois será uma descoberta para quem gosta de histórias envolventes, verosímeis, que tocam de perto com uma realidade crua, mas igualmente com esperança e fé.

O Autor:

Nasceu em Roma, em 1974. Casado e pai de dois filhos, vive em Ariccia (Castelli Romani), nos arredores da capital italiana.
Muito jovem ainda, revelou-se como uma estrela nascente da cena literária, em primeiro lugar como poeta, mas também como escritor, na narrativa e no romance, áreas em que se distinguiu e conquistou prestigiosos prémios.
A sua vasta produção literária revela-nos uma nova forma de contar histórias, a partir da realidade até aos domínios da busca espiritual. Especialmente na ficção, como La casa degli sguardi (A casa dos olhares)Tutto chiede salvezza (Tudo pede salvação), ou o recente Sempre tornare (Voltar sempre), publicados por Mondadori e vencedores de importantes prémios, o autor percorre – em subliminar registo autobiográfico e com rara densidade –, o seu próprio e doloroso renascimento. Mas, como ele próprio diz: «Não é escritor quem tem uma história, mas sim aquele que sabe escrevê-la.» E Mencarelli bem o sabe!

A casa dos olhares está a ser adaptada ao cinema. Daniele Mencarelli é autor da série “tudo pede salvação” – Todos queremos ser salvos, produção da Netflix.

Autor: Daniele Mencarelli

Título: A Casa dos Olhares

Editora: Paulinas Editora

Ano: 2023


Livro disponível na Gráfica de Lamego e online na página PAULINAS EDITORA.

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